terça-feira, 6 de março de 2012

As vidas são fáceis de tirar, de acabar. A vida é fácil de tirar, de acabar. Num olhar deslumbrado que desvanece. Um gesto, uma palavra, um esgar, um som podem acabar uma vida. Determinando que o que sentimos nas entranhas não é vida, é morte. De um momento para o outro sentir vida. E depois morte. Uma sucessão de vidas e mortes arrancadas de uma só pessoa, de uma só alma, de um só corpo. Corpo que manifesta a maleita da alma. Que nos impede de ficar indiferentes à morte da alma, que nos recorda de que sentimos as maleitas e as mortes fisicamente, e que a isso não podemos fugir. Curar a alma passa por perceber que a dor não é só imaterial mas que se manifesta fisicamente. Por isso é que existem os medicamentos que curam a alma através do corpo. Que os psiquiatras, cientistas credíveis e legítimos tanto receitam quando acham necessário, quando não conseguem curar a alma de alguém. Têm uma espécie de ferramenta química que joga com o nosso invólucro biológico inevitável. E assim põem uma pessoa mais bem disposta. Mais satisfeita. Mais reconciliada consigo mesma e com o que a influencia. Será legítimo curar uma alma através do corpo? Será uma alma curável? Através de um químico que a tranquiliza? A cura aparente leva-nos a concluir, provavelmente de forma apressada, que uma alma é curada quando o corpo é curado. Eu não acredito que fique curada.

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